Uma das primeiras decisões ao descobrir a gravidez aqui é escolher com quem você quer ser acompanhada. Mas e quando você nem sabe muito bem como essa escolha funciona no Québec?
1. Parteiras: cuidado contínuo, menos intervenções, fisiologia como principal guia
As sages-femmes (parteiras) oferecem um acompanhamento completo, do pré-natal ao pós-parto, com foco no protagonismo da mulher. Estão disponíveis os mesmos testes e exames para avaliar a saúde da gestante e do bebê.
Com as sages-femmes, é possível escolher parir em casa, na casa de parto (maison de naissance) ou no hospital. Durante o pré-natal, as consultas são intercaladas entre as profissionais da equipe, permitindo que você conheça quem estará presente no parto.
O cuidado é centrado na fisiologia do parto, com menos intervenções, e há um ambiente mais acolhedor para a tomada de decisões compartilhadas.
As parteiras são regulamentadas por uma ordem profissional que visa à proteção do público, assim como acontece com médicas, enfermeiras, dentistas, engenheiros e outros profissionais. Elas se guiam pelas evidências científicas, mas também acolhem outros saberes e respeitam as escolhas das pessoas.
2. Médicas de família, obstetras e enfermeiras: cuidado clínico estruturado
Se sua gravidez apresenta algum fator de risco, ou se você prefere um modelo mais médico, o acompanhamento pode ser feito por uma médica de família, obstetra, enfermeira ou equipe hospitalar.
Na prática, o acompanhamento exclusivamente com obstetra é raro e geralmente reservado para situações mais complexas. O mais comum é o seguimento por uma médica de família ou enfermeira, com encaminhamento ao obstetra apenas quando necessário.
As consultas com médicos tendem a ser mais curtas, mas em geral são intercaladas com as enfermeiras, que costumam ter mais tempo para discutir aspectos do acompanhamento.
O parto acontece no hospital, com a equipe de plantão. Ao escolher a clínica para o acompanhamento, você também define o hospital onde o parto ocorrerá.
O cuidado segue protocolos padronizados, o que pode ser tranquilizador para algumas pessoas, mas também exige preparação: refletir sobre suas preferências e levar uma lista com suas escolhas pode ajudar a dialogar com a equipe e adaptar o cuidado às suas necessidades.
3. Como saber qual caminho seguir?
- Refletir sobre seus valores e desejos pode te ajudar a identificar o que está mais alinhado com você. Conversar com doulas, ouvir relatos, visitar espaços… tudo isso ajuda!
- Você valoriza um olhar mais global, natural, e quer conhecer a equipe que estará com você?
- Ou sente mais segurança em um modelo médico, com maior controle, uso de tecnologia e tolerância menor a riscos?
- Sua gravidez tem fatores de risco? Nesse caso, o acompanhamento médico pode ser o mais indicado — e a casa de parto talvez nem seja uma opção.
Nem tudo são flores…
Falamos de escolha, certo? Mas, na prática, a teoria pode ser outra. Infelizmente, mesmo que você sinta que deu match total com a casa de parto, pode não haver vaga.
A disponibilidade de parteiras é limitada e varia bastante de uma região para outra. Por outro lado, o cuidado médico/hospitalar está sempre acessível.
Caso surja qualquer inquietude ou mudança no seu estado de saúde, a transição para a equipe médica ou mesmo uma consulta pontual é fácil. Durante o parto, a transferência para o hospital ou para a equipe médica também pode ocorrer a qualquer momento, por necessidade clínica ou por escolha da mulher.
Aliás, você sabia que a causa mais comum de transferência para o hospital é o desejo de receber uma epidural?
No Maternê, temos uma afinidade especial pelos cuidados das sages-femmes, e por isso sugerimos que você entre em contato o quanto antes com as casas de parto, converse com quem já foi acompanhada por lá.
Mas essa é a nossa preferência…
Você tem 42 semanas para refletir — e, se precisar, o hospital estará sempre disponível
Sobre as autoras
Laura Lima Gomes, MD, doula e consultora em amamentação certificada IBCLC.
Larissa Belardin, PhD, consultora em amamentação.
As duas integram o projeto Maternê. Você pode acompanhar mais no Instagram: @materne.ca
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